A doença causada pelo vírus Ebola, conhecida anteriormente como Febre Hemorrágica Ebola, é grave e muitas vezes fatal, com taxa de letalidade que pode chegar aos 90%. O agente da doença é um vírus da família Filoviridae, do gênero Ebolavirus. Até o momento, foram descritas cinco subespécies de vírus Ebola, sendo o Zaire Ebolavirus o que apresenta a maior letalidade.
Apesar do Brasil não apresentar casos registrados da doença, esta é uma das mais importantes na África subsaariana, ocasionando surtos esporádicos que afetam diversos países. No dia 17 de julho de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) na República Democrática do Congo, mas considera o risco elevado nesse país, e em países que fazem fronteira com ele.
Um tratamento experimental com anticorpo monoclonal está atualmente em ensaio clínico para examinar sua segurança e tolerabilidade, sendo oferecido à pacientes com ebola na República Democrática do Congo sob uso compassivo. O anticorpo monoclonal, denominado mAb114, liga-se a um receptor de superfície do vírus, bloqueando a infecção de células humanas. Este anticorpo foi caracterizado a partir de um sobrevivente no surto de 1995 em Kikwit (República Democrática do Congo) e desenvolvido pelo NIH (National Institutes of Health – EUA). Resultados preliminares publicados no periódico The Lancet demonstraram que o anticorpo é seguro para adultos, bem tolerado e fácil de ser administrado.
Os participantes do ensaio clínico de fase 1 receberam uma única infusão intravenosa de mAb114, administrada durante aproximadamente 30 minutos. Três participantes receberam uma dose de 5mg/kg; cinco participantes receberam uma dose de 25 mg/kg; e 10 participantes receberam uma dose de 50 mg/kg. Todas as infusões foram bem toleradas. Quatro participantes relataram efeitos colaterais leves, como desconforto, dor muscular ou articular, dor de cabeça, náusea e calafrios nos três dias após a infusão. Como esperado, os níveis de mAb114 no sangue aumentaram à medida que a dosagem foi aumentada. Os pesquisadores também observaram níveis relativamente uniformes de absorção, distribuição e eliminação do mAb114 entre os participantes.
Os autores observaram várias vantagens para a implantação do mAb114 em ocasiões de surto, incluindo a facilidade e a velocidade de sua administração, além de sua formulação como um pó liofilizado que não requer armazenamento em freezer. O pó é reconstituído com água estéril e solução salina para administração.
Além do estudo clínico de fase 2/3 em andamento na República Democrática do Congo, os responsáveis planejam iniciar outro estudo Fase 1 do tratamento experimental com mAb114 na África.
Referência:
MR Gaudinski et al. Safety, tolerability, pharmacokinetics, and immunogenicity of the therapeutic monoclonal antibody mAb114 targeting Ebola virus glycoprotein (VRC 608): an open-label phase 1 study. The Lancet, 2019 DOI: 10.1016/S0140-6736(19)30036-4
Crédito da imagem: Northumbria University
Fontes: